terça-feira, 7 de novembro de 2017

Da sala de aula para a vida: um novo olhar para a Química

por Professora Patrícia Morais



O 7º ano encerrou a época de química na última semana. Foi uma época muito interessante, todos - professora e alunos - ficamos entusiasmados com o que fizemos: as experiências, as observações e as ponderações. 

O que chama mais atenção nessas épocas de ciências é como o aluno se relaciona com os experimentos e os aprendizados que ele tira para sua própria vida. Essa foi a grande surpresa da época de química: através de experiências pudemos conversar sobre coisas profundas da vida humana. 

Foi a primeira vez que a turma estudou química de forma consciente e sistemática, pois a química é estudada desde o 1º ano, mas não com esse nome. Ao longo do ensino fundamental as crianças vivenciam a química quando fazem comida, experimentam a química dos alimentos, fazem pequenas fogueirinhas, observam o processo de combustão e como cada elemento se comporta quando pega fogo, provam sabores e diferenciam entre ácidos,doces, salgados, amargos, adstringentes...


No 7º ano tudo isso ganha consciência na época de química. O currículo deste ano contempla a combustão, o ciclo da cal e o estudo do calcário, a relação dos ácidos e bases com indicador de PH. Começamos a época fazendo uma fogueira, tão comum, como sempre fizeram, mas que neste momento foi observada de um outro ponto de vista, em termos de consciência. E quantas coisas observamos! Quanto pudemos conversar! O fogo tem um poder gigantesco e quando o homem o recebeu dos deuses, pôde dominar o mundo: passamos a cozinhar o alimento, nos aquecer, afugentar animais ferozes... 


Na experiência da fogueira, cada aluno pôde ir ao bosque da escola pegar "tesouros" para jogar na fogueira: flores, pedras, folhas e até cana-de-açúcar - como ela se comportaria no fogo? Reunimos os objetos e contemplamos. Perguntei: "vocês sabem o que vai acontecer com isso? Flores perfumadas, frutos do algodoeiro... tudo irá desaparecer, será transformado. Vocês estão preparados para isso?"


E foi sobre isso que conversamos no dia seguinte, durante a retrospectiva: o que aconteceu com as flores, qual o cheiro, e com a cana... a cana virou melado! Tudo foi transformado! O fogo destrói e também transforma. A conversa se aprofundou e os jovens perceberam que na vida podemos olhar para os fatos e escolher se vamos considerá-los destrutivos ou transformadores. Nesta fase do desenvolvimento, em que estão passando da infância para a juventude, eles vivem uma verdadeira fogueira dentro de si. Fogueira que pode ser tanto destrutiva quanto transformadora. Cabe a cada um saber lidar com o seu fogo interno. 

Outra experiência desta época foi a bomba de cal. A cal foi colocada em uma garrafa, depois adicionamos água e fechamos a garrafa. Eles elaboraram hipóteses do que poderia acontecer. E pudemos observar a explosão! Observamos que quando a pressão fica muito grande (pelo calor e vapor d'água que são liberados) ela explode, e pode ser destrutiva. Percebemos que a coisas que ficam guardadas em nós precisam ser elaboradas para sair de forma equilibrada, e não como numa explosão. A busca deste equilíbrio é uma vivencia diária!


Também trabalhamos o indicador de PH, feito com suco de repolho roxo, e que surpresa a mudança mágica de cores no tubo de ensaio, quando o experimentávamos em cada substância: suco de limão, ácido clorídrico, vinagre, sal, bicarbonato de sódio...

A química está presente desde o 1º ano, mas sem a conscientização, pois na Pedagogia Waldorf as crianças dos primeiros anos ainda deveriam viver em um ambiente sem muita explicação teórica, mas sentindo, fazendo e observando o que faz. A Época de Química, no 7º ano, reúne os conhecimentos que foram construídos em anos anteriores. Recordamos a Botânica do 5º ano ao percebermos o que a planta faz quando cresce, incorporando gás carbônico, água, luz e calor e, na fogueira, durante o processo de combustão, esses mesmos elementos que fazem parte do ser vegetal, são disponibilizados para o mundo externo. Conversamos sobre como podemos dar apenas o que temos dentro de nós!

No caso da rocha e da cal, a mineralogia do 6º ano pôde voltar, ao revermos a formação da rocha. Os conhecimentos construídos nos anos anteriores ganham consciência com aplicabilidade dentro da química. Assim é o caminho curricular na Pedagogia Waldorf e é maravilhoso vivenciar isso com os alunos, dentro do seu próprio desenvolvimento enquanto ser humano.

O conteúdo na Pedagogia Waldorf é só um pretexto: no fundo estamos estudando química para falar de nós, para instrumentalizar esses meninos e meninas para a vida adulta. Contar a eles como podemos nos comportar perante as situações e vivências anímicas neste corpo astral que está prestes a nascer, com toda a astralidade que tem direito, sem ainda a força do EU, que só chega ao final do 3º setênio. 

Usamos o currículo para dizer que: "Essa força dentro de você, meu querido aluno, é controlável, assim como o fogo. Podemos colocar mais lenha e deixar crescer em uma grande fogueira, se assim quisermos. Ou podemos controlá-lo numa colher (mesmo que a substância seja altamente inflamável, como fizemos com a gasolina). Nós estamos no controle, e usufruímos do poder transformador que o fogo pode proporcionar."

Tudo na vida é assim, as coisas podem ser vistas de formas diferentes, podem ser destrutivas ou transformadoras. No fundo, ser Professora Waldorf traz o maior sentimento de gratidão pela vida que um ser humano pode desenvolver. E falar disso com meus alunos é simplesmente maravilhoso.