Nossa opção pela Escola Miguel Arcanjo foi feita em agosto de 2012, bem na metade do ano letivo, depois de um percurso de nossos filhos por três outras escolas, desde a Educação Infantil.
Somos gratos a todas essas instituições, onde nossas crianças foram muito bem acolhidas, onde foram felizes, aprenderam muito e onde nós, como pais, sempre fomos respeitados. Porém, no plano pedagógico estávamos constantemente com uma sensação de que algo mais apropriado, mais rico e enriquecedor poderia estar sendo feito para/pelos nossos filhos. Essa sensação se tornou uma certeza à medida que nossa filha avançava no ensino fundamental. Eu e meu esposo somos pedagogos e profissionais da área de educação e, em certo momento, concluímos que não podíamos mais continuar investindo em um modelo educacional tão distante do que acreditamos.
Somos gratos a todas essas instituições, onde nossas crianças foram muito bem acolhidas, onde foram felizes, aprenderam muito e onde nós, como pais, sempre fomos respeitados. Porém, no plano pedagógico estávamos constantemente com uma sensação de que algo mais apropriado, mais rico e enriquecedor poderia estar sendo feito para/pelos nossos filhos. Essa sensação se tornou uma certeza à medida que nossa filha avançava no ensino fundamental. Eu e meu esposo somos pedagogos e profissionais da área de educação e, em certo momento, concluímos que não podíamos mais continuar investindo em um modelo educacional tão distante do que acreditamos.
Do que estou falando? Para resumir, é um modelo educacional em que a infância, como a compreendemos, tem sido cada vez mais desconsiderada, em função de uma suposta preparação para um mundo competitivo em que Enem, vestibular, mercado de trabalho, parecem ser os principais pontos no horizonte, ofuscando, com suas luzes artificiais, o brilho natural de valores humanos e espirituais que para nós são prioritários. Nesse modelo, a expressão “desenvolvimento integral do ser humano” é utilizada à exaustão, especialmente em projetos pedagógicos e peças publicitárias de escolas, mas significa apenas, na prática, um somatório de atividades diversas, nas quais pouca atenção e, especialmente, pouco tempo são concedidos para se pensar, sentir e viver o que seria, de fato, a integralidade do humano.
Crianças de 8 anos tendo 5 aulas por dia, de 5 disciplinas diferentes, cada aula com 50 minutos? Levando para casa diversos deveres, para diferentes datas, a ponto de elas e seus pais se transformarem em verdadeiros “gerenciadores de deveres”, os quais passam a ocupar quase o centro da rotina familiar? Crianças dessa idade sendo levadas a tentar aprender os conteúdos curriculares basicamente por meio do livro didático, com muito poucas vivências e experiências concretas? Esperar que uma criança aprenda sobre as “propriedades dos materiais”, como elasticidade, impermeabilidade e outras, pelo estudo do livro e não por tocá-los, experimentá-los, investigá-los, para depois formular conclusões? Ter como objetivo que uma criança recém-introduzida no mundo da leitura e da escrita aprenda o que são ditongos, tritongos, hiatos, quando ela deveria estar aprendendo a se deliciar com as possibilidades de traduzir o mundo por palavras escritas e de penetrar nos segredos contados por escrito por outras pessoas? Esses são apenas alguns exemplos do que víamos e vemos como grandes inadequações desse modelo que não é específico de uma determinada escola, mas parece estar se tornando cada vez mais dominante, especialmente no âmbito das instituições privadas, mobilizadas pela competição em torno de bons lugares nos rankings e pressionadas a esse respeito, muitas vezes, pelas próprias famílias. Diante dessas situações, lembrávamos da indagação de Montaigne: o que desejamos, uma “cabeça bem cheia” ou uma “cabeça bem-feita”?
Tânia F. Resende é professora da Faculdade de Educação da UFMG e mãe de dois alunos da Escola Miguel Arcanjo
Novembro de 2012
Novembro de 2012